sexta-feira, 24 de setembro de 2010

“Respeitável público....
Vamos votar, e o melhor...não precisa pensar...
Só veja as cores que o agradam....ainda não escolheu?
Ajudo com números fáceis, estrofes rimadas e curvas a seu gosto.
É um cardápio de insanidade! Qual seu pedido?”

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"O grande homem"

De repente ele se perdeu...
Olhando para os lados, nada viu de definido, nem verdades absolutas, nem mais um “até que a morte os separem”...

Como se seu guia fosse apenas a ilusão.
Busca respostas em tudo, explicações fúteis...
Apegou-se ao desapego de tal forma que não sabe como sair...

Só mais um nó na gravata no meio dos prédios... muitas vezes mal dado,
pois não tem mais o auxílio suave de outra mão....
Mais um solitário que finge o sorriso diário de um homem bem sucedido...
Mais um nos dados alarmantes de nossa hipocrisia...
Menos um...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

roda - vida

A televisão desligada já anunciava o samba
Os bambus sustentavam cada acorde
Na blusa listada, nos times, no salto alto, no chinelo
Nas cores de todas as escolas
Com a panela já quente na mesa,
Todas as misturas
O sol já ia, mas antes refletia em cada tijolo
Construindo...
Chegam mais , representando cada história,
Cada batida..
Das bebidas, todos os gostos,
Dos sorrisos, as mesmas expressões.
Bandeiras hasteadas por todas as janelas
Improvisavam a esperança patriota
Difícil realidade estampada nas ruas
Vamos pra mais um samba,
Traçar mais um caminho,
Entre ladeiras, dribles e faróis,
Compondo a vida

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

re - conforto

Vamos viver o mundo, por favor...
Vamos criar confetes... Subornar o impossível...
Enganar o óbvio...
Venha comigo, venha
E sim... Sonhe outra vez...
Só mais uma vez brinque...
Perca aquele da orelha esquerda no sofá...
Esqueça a chave...
Destranque...
Caiba em mim...
Desvende o já dito no espelho
Reflita o ontem... Abrigue-se aqui...
O simples amanhã...
O nunca agora já...
Delicie-se naquela dança, gotejada de passos, de movimentos aleatórios...
Acredite nesse deus, que volta a ensaiar passos...
Que aprende agora como ser humano,
Como ser, só ser...
Só repousar em si mesmo....
Abrir aos poucos as asas do reencontro...
Aquela roda ainda existe...

...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"maravilha" (para os bem poucos...)

Que encontro....
Intensidade de saberes e dúvidas...
Confissões entre um trago e um acorde...
Poesia e melodia...
Necessidade de uma compreensão tão singular, que parece improvável...
Que surpresa....
O improvável tornando-se óbvio entre as asas de uma borboleta....
Com você também acontece?
um suspiro entre a ignorância...
um sobrevôo de impressões...
um abraço...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

banco...e você?

Por que as pessoas se atentam aos sonhos?
Porque colocar lirismo no irreal?isso é fácil...
Traduza então o dia em poesia,
faça o menino, o trapo e o traço no farol se tornar singular...
Quer sonhar letras, mas não vê aquele senhor, no banco do seu prédio, que novamente tenta lhe arrancar um bom dia.

Não precisa forjar tons e cores, o cinza é belo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ensaiando Erros

Não ultrapasse. Não fume. Não beba demais. Não fale palavrão na frente das crianças. Não deixe para amanhã. Não coloque os cotovelos na mesa. Não fale alto. Não corra. Não ande muito devagar. Não confie. Não seja tão desconfiado. Não traia. Não use drogas.

Não já virou começo de sentença, palavra comum, vício de regras, quebra dos subversivos, aliás...não seja subversivo. Não durma tarde. Não roube. Não mate.

Imperativo negativo do bom senso...

Sobrevoando as regras, permeando o ordinário, o esperado conforto do não saber...
Aliás...não saiba....é perigoso demais...
Apenas ensaie..pois atuar cansa, repete, re – forma...
Ensaiar permite o imprevisto, o improviso, o impróprio...
Deixe escapar, corroer e transgredir... pra finalmente errar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

"dentro da melodia"

Riu-se Noel, Ismael E Zé Ketti
Quanto do pouco do samba é feito?
Ao lado das ilegais, perto dos brilhantes, nas dobras centrais, nos quartos fechados.
Santa ceia do samba....não passou , não é antigo, é espelho...Nogueira que cresce...
Não é São Paulo, não é Rio nem Bahia....é na praça, seja ela qual for....
É o dizer certo de Adoniran, na poesia concreta das esquinas...
No Bixiga de Gudin, na Portela de todos os Paulos....
Mesmo que elas (as rosas) não demonstrem mais tanto lirismo...
Mesmo que as rugas não ocultem mais o tempo que a morte leva...
O tom da madeira está lá....desfazendo os nós...disfarçando os calos...
É naquele samba, que vem de lugar nenhum, que não tem patente, não tem madrinha nem porta bandeira...
Trazemos em palpites, choramos em “brasileiro”....
E as duras cordas, essas sim, levianas, silenciam....
A pausa de infinitos compassos, de tantas meninas...de braços vazios....
E quando essa festa acabar, esses retalhos em tom de cinza cobrirão os malandros, os guris, as Ritas...Pedindo um auxílio (luxuoso) do garçom...e um trago...
Vício de poesia, de repente, de improviso....de feitiço...
Um cenário de samba, uma roda pra dor, um breque para o amanhã...

Dia....Adia

Palavras soltas....sem sentido, que buscam na sentença a absolvição...culpa do quase. Possibilidade do talvez...destruições intactas de sonhos óbvios. O estranho conhecido imaginário. Onde habitam todos aqueles que não estão. Confundindo entre o ontem e o amanha... Afinal, o presente é muito real, a afirmação do já dito, o esperado das horas, dos compromissos certos.
Cansaço das banalizações diárias, de fórmulas de sentimentos e proporções de convenção. Frases prontas que se combinam em qualquer situação, escapes de sombras, risos descontrolados de empatia.
Adiem os compromissos com propriedade, com algo inusitado que aconteceu só com você, que detém o direito te ter problemas.
Não conte quem você foi um dia, crie vantagens em quem você será...e ria daqueles que te ouvem com atenção.
Ouça a música da moda, dirija este carro, veja este filme. É a divina criação... (sim, isso foi uma ironia)
Levantem a bandeira da hipocrisia, brindem a evolução do país, transforme em comédia o cotidiano que tropeça...

mãos...

Tenho nas mãos...
Uma cor sempre suave, nunca vermelho...
Pele, nem sempre a minha, as dos outros, as que cantam...
O controle, o suor, a força, o afeto
As linhas e marcas...os números decorados, o código do banco, o corte da folha sulfite.
Tenho nas mãos os caminhos que indicam... as chaves...a poeira branca do conhecimento...
A negação, o convite, a gota do perfume
O acesso, a página virada, a doação...
Tenho nas mãos a direção, a entrega urgente
Os aplausos, a lágrima, o movimento...
As mais diversas notas em combinações em preto e branco...
Tenho nas mãos....

quarta-feira, 19 de maio de 2010

E.C.T (para os poucos que entendem...)

É um recado, uma informação, uma pretensão de aviso. É surpresa, é medo de resultado.

Leia sua carta hoje, coloque antes o envelope contra a luz, envelheça mais uns anos com isso. Verifique quem enviou, crie essa história dobrada. Urgente assusta, mas se for seu aniversário, o recado é obvio. Remetente desconhecido – engano. Devolva ao porteiro.

Des - Articulando

Pulando entre platôs, observando o atemporal. Fazendo das palavras um ambiente seguro. Busca de acordes imperfeitos, diminuindo ao máximo. Pausa. Uma distração harmônica. Vou inventar meu próprio vocabulário. Que permita um suspiro azul, ou uma imagem morna, que dê espaço para um sorriso em si menor. No mesmo tempo em que Léo e Bia souberam. Cavando abismos com meus pés, buscando em Escher a tão esperada ilusão, a escada que não tem começo nem fim, mas está exata na imagem. Projetando todos meus “eus” para todos aqueles que me desconhecem, e camuflando alteradamente para aqueles que sabem.
Buscando um lugar na caosmose delleziana, entre fugas e desarticulações, reterritorializando, cantando codinomes, me perguntando que esperteza é essa que a beleza tem?
Gargalhadas que escondem o desespero desarrumado da calma...e da impossibilidade....
Tenho medo do óbvio, do certo. Prefiro o talvez. Me deleito com achismos e possibilidades e admiro o caos, pois só ele se permite deter a loucura com propriedade

Um gole de vinho – “conto do reencontro”

Resolvi tomar um vinho hoje. A cena era essa: fim de tarde, cor alaranjada, poucas nuvens no céu...cheiro precoce das ansiosas damas da noite...
Primeiro gole, ainda estranho ao paladar...passo a língua nos lábios, de olhos fechados..nesse momento escapa um suspiro e um sorriso, e quando percebo uma mulher esta sentada a minha frente...rosto conhecido, talvez já tenha visto....não sei....talvez o olhar...
- tudo Bem? – ela pergunta com a certeza de me conhecer...
Eu sem graça de questionar, apenas respondi que sim, com um leve sorriso...
- vi você sorrindo e suspirando....tudo bem?
Imediatamente respondi que não estava suspirando, apenas deveria estar cansada por mais um dia longo de trabalho...e o sorriso deve ter escapado....
- você está diferente – disse a intrigante moça, transpassando meus olhos, quase causando um certo desconforto.
Demorei a responder, pensando se deveria perguntar quem era ela ou não....mas era tão conhecida....
- você acha? Respondi ainda com um ar desconfiado, tentado na próxima resposta descobrir algo...
- Claro , fazia muito tempo que não te via assim...
- talvez seja porque não nos vemos a algum tempo, retruquei...
E a moça sorriu ...e com a cabeça levemente de lado olhou novamente nos meus olhos....
Consegui olhá-la por mais tempo....reconhecia algo nela, mas não enxergava....
- aceita uma taça? Perguntei...
- vou pedir, disse a moça já com os braços estendidos chamando o garçom....
Para minha surpresa, aquela estranha estava muito confortável, conhecia as pessoas....será que é daqui que conheço ela? Vou perguntar...
- gostaria também de um copo de água e gelo, por favor – disse ela antes que eu lhe perguntasse algo.
Uma vez me disseram que colocar gelo no vinho não é de bom grado....mas a moça não se intimidou....e sorrindo para o garçom agradeceu ...
- então , como estão as coisas? Pergunta a moça projetando seu corpo para frente e movimentando a taça...
- estou bem, trabalhando bastante, as coisas de sempre – fui sucinta
Aos poucos a moça foi me contando sua história, seus sonhos, seus medos e suas lembranças.....e cada vez mais aquilo se aproximava de mim, do que eu era...
Mas a moça falava muito, gesticulava, sorria, explicava e se permitia...
- você se permite?
- permite o quê?
- sonhar, acreditar....
- não sei...sou meio cética,como você sabe..(ela sabe??)
- por isso acho que você está diferente...
- não entendi..me desculpe..
- entendeu sim só não percebeu...
- ah....só acho que essa história de sonhar demais, ser romântica demais, crer demais é estupidez – disse a ela, novamente com um certo incômodo...quem ela pensa que é para tentar me ler desta forma?
- você sabe quem eu sou....
(espera um pouco... eu não disse nada, porque ela respondeu?)
Coloquei um gelo em meu vinho... Brindamos...
- a nós – disse ela
- a nós? – perguntei...
- sim...ao nosso reencontro...
Parei por alguns instantes...foi então que sorri, com a cabeça levemente de lado, olhando para aquela moça, agora tão familiar e me reconheci, naqueles olhos com brilho e no sorriso da certeza...
Abri os olhos, tomei meu segundo gole e continuei sozinha, sorrindo, esperando o fim daquela tarde...