terça-feira, 25 de maio de 2010

"dentro da melodia"

Riu-se Noel, Ismael E Zé Ketti
Quanto do pouco do samba é feito?
Ao lado das ilegais, perto dos brilhantes, nas dobras centrais, nos quartos fechados.
Santa ceia do samba....não passou , não é antigo, é espelho...Nogueira que cresce...
Não é São Paulo, não é Rio nem Bahia....é na praça, seja ela qual for....
É o dizer certo de Adoniran, na poesia concreta das esquinas...
No Bixiga de Gudin, na Portela de todos os Paulos....
Mesmo que elas (as rosas) não demonstrem mais tanto lirismo...
Mesmo que as rugas não ocultem mais o tempo que a morte leva...
O tom da madeira está lá....desfazendo os nós...disfarçando os calos...
É naquele samba, que vem de lugar nenhum, que não tem patente, não tem madrinha nem porta bandeira...
Trazemos em palpites, choramos em “brasileiro”....
E as duras cordas, essas sim, levianas, silenciam....
A pausa de infinitos compassos, de tantas meninas...de braços vazios....
E quando essa festa acabar, esses retalhos em tom de cinza cobrirão os malandros, os guris, as Ritas...Pedindo um auxílio (luxuoso) do garçom...e um trago...
Vício de poesia, de repente, de improviso....de feitiço...
Um cenário de samba, uma roda pra dor, um breque para o amanhã...

Dia....Adia

Palavras soltas....sem sentido, que buscam na sentença a absolvição...culpa do quase. Possibilidade do talvez...destruições intactas de sonhos óbvios. O estranho conhecido imaginário. Onde habitam todos aqueles que não estão. Confundindo entre o ontem e o amanha... Afinal, o presente é muito real, a afirmação do já dito, o esperado das horas, dos compromissos certos.
Cansaço das banalizações diárias, de fórmulas de sentimentos e proporções de convenção. Frases prontas que se combinam em qualquer situação, escapes de sombras, risos descontrolados de empatia.
Adiem os compromissos com propriedade, com algo inusitado que aconteceu só com você, que detém o direito te ter problemas.
Não conte quem você foi um dia, crie vantagens em quem você será...e ria daqueles que te ouvem com atenção.
Ouça a música da moda, dirija este carro, veja este filme. É a divina criação... (sim, isso foi uma ironia)
Levantem a bandeira da hipocrisia, brindem a evolução do país, transforme em comédia o cotidiano que tropeça...

mãos...

Tenho nas mãos...
Uma cor sempre suave, nunca vermelho...
Pele, nem sempre a minha, as dos outros, as que cantam...
O controle, o suor, a força, o afeto
As linhas e marcas...os números decorados, o código do banco, o corte da folha sulfite.
Tenho nas mãos os caminhos que indicam... as chaves...a poeira branca do conhecimento...
A negação, o convite, a gota do perfume
O acesso, a página virada, a doação...
Tenho nas mãos a direção, a entrega urgente
Os aplausos, a lágrima, o movimento...
As mais diversas notas em combinações em preto e branco...
Tenho nas mãos....

quarta-feira, 19 de maio de 2010

E.C.T (para os poucos que entendem...)

É um recado, uma informação, uma pretensão de aviso. É surpresa, é medo de resultado.

Leia sua carta hoje, coloque antes o envelope contra a luz, envelheça mais uns anos com isso. Verifique quem enviou, crie essa história dobrada. Urgente assusta, mas se for seu aniversário, o recado é obvio. Remetente desconhecido – engano. Devolva ao porteiro.

Des - Articulando

Pulando entre platôs, observando o atemporal. Fazendo das palavras um ambiente seguro. Busca de acordes imperfeitos, diminuindo ao máximo. Pausa. Uma distração harmônica. Vou inventar meu próprio vocabulário. Que permita um suspiro azul, ou uma imagem morna, que dê espaço para um sorriso em si menor. No mesmo tempo em que Léo e Bia souberam. Cavando abismos com meus pés, buscando em Escher a tão esperada ilusão, a escada que não tem começo nem fim, mas está exata na imagem. Projetando todos meus “eus” para todos aqueles que me desconhecem, e camuflando alteradamente para aqueles que sabem.
Buscando um lugar na caosmose delleziana, entre fugas e desarticulações, reterritorializando, cantando codinomes, me perguntando que esperteza é essa que a beleza tem?
Gargalhadas que escondem o desespero desarrumado da calma...e da impossibilidade....
Tenho medo do óbvio, do certo. Prefiro o talvez. Me deleito com achismos e possibilidades e admiro o caos, pois só ele se permite deter a loucura com propriedade

Um gole de vinho – “conto do reencontro”

Resolvi tomar um vinho hoje. A cena era essa: fim de tarde, cor alaranjada, poucas nuvens no céu...cheiro precoce das ansiosas damas da noite...
Primeiro gole, ainda estranho ao paladar...passo a língua nos lábios, de olhos fechados..nesse momento escapa um suspiro e um sorriso, e quando percebo uma mulher esta sentada a minha frente...rosto conhecido, talvez já tenha visto....não sei....talvez o olhar...
- tudo Bem? – ela pergunta com a certeza de me conhecer...
Eu sem graça de questionar, apenas respondi que sim, com um leve sorriso...
- vi você sorrindo e suspirando....tudo bem?
Imediatamente respondi que não estava suspirando, apenas deveria estar cansada por mais um dia longo de trabalho...e o sorriso deve ter escapado....
- você está diferente – disse a intrigante moça, transpassando meus olhos, quase causando um certo desconforto.
Demorei a responder, pensando se deveria perguntar quem era ela ou não....mas era tão conhecida....
- você acha? Respondi ainda com um ar desconfiado, tentado na próxima resposta descobrir algo...
- Claro , fazia muito tempo que não te via assim...
- talvez seja porque não nos vemos a algum tempo, retruquei...
E a moça sorriu ...e com a cabeça levemente de lado olhou novamente nos meus olhos....
Consegui olhá-la por mais tempo....reconhecia algo nela, mas não enxergava....
- aceita uma taça? Perguntei...
- vou pedir, disse a moça já com os braços estendidos chamando o garçom....
Para minha surpresa, aquela estranha estava muito confortável, conhecia as pessoas....será que é daqui que conheço ela? Vou perguntar...
- gostaria também de um copo de água e gelo, por favor – disse ela antes que eu lhe perguntasse algo.
Uma vez me disseram que colocar gelo no vinho não é de bom grado....mas a moça não se intimidou....e sorrindo para o garçom agradeceu ...
- então , como estão as coisas? Pergunta a moça projetando seu corpo para frente e movimentando a taça...
- estou bem, trabalhando bastante, as coisas de sempre – fui sucinta
Aos poucos a moça foi me contando sua história, seus sonhos, seus medos e suas lembranças.....e cada vez mais aquilo se aproximava de mim, do que eu era...
Mas a moça falava muito, gesticulava, sorria, explicava e se permitia...
- você se permite?
- permite o quê?
- sonhar, acreditar....
- não sei...sou meio cética,como você sabe..(ela sabe??)
- por isso acho que você está diferente...
- não entendi..me desculpe..
- entendeu sim só não percebeu...
- ah....só acho que essa história de sonhar demais, ser romântica demais, crer demais é estupidez – disse a ela, novamente com um certo incômodo...quem ela pensa que é para tentar me ler desta forma?
- você sabe quem eu sou....
(espera um pouco... eu não disse nada, porque ela respondeu?)
Coloquei um gelo em meu vinho... Brindamos...
- a nós – disse ela
- a nós? – perguntei...
- sim...ao nosso reencontro...
Parei por alguns instantes...foi então que sorri, com a cabeça levemente de lado, olhando para aquela moça, agora tão familiar e me reconheci, naqueles olhos com brilho e no sorriso da certeza...
Abri os olhos, tomei meu segundo gole e continuei sozinha, sorrindo, esperando o fim daquela tarde...