quarta-feira, 19 de maio de 2010

Um gole de vinho – “conto do reencontro”

Resolvi tomar um vinho hoje. A cena era essa: fim de tarde, cor alaranjada, poucas nuvens no céu...cheiro precoce das ansiosas damas da noite...
Primeiro gole, ainda estranho ao paladar...passo a língua nos lábios, de olhos fechados..nesse momento escapa um suspiro e um sorriso, e quando percebo uma mulher esta sentada a minha frente...rosto conhecido, talvez já tenha visto....não sei....talvez o olhar...
- tudo Bem? – ela pergunta com a certeza de me conhecer...
Eu sem graça de questionar, apenas respondi que sim, com um leve sorriso...
- vi você sorrindo e suspirando....tudo bem?
Imediatamente respondi que não estava suspirando, apenas deveria estar cansada por mais um dia longo de trabalho...e o sorriso deve ter escapado....
- você está diferente – disse a intrigante moça, transpassando meus olhos, quase causando um certo desconforto.
Demorei a responder, pensando se deveria perguntar quem era ela ou não....mas era tão conhecida....
- você acha? Respondi ainda com um ar desconfiado, tentado na próxima resposta descobrir algo...
- Claro , fazia muito tempo que não te via assim...
- talvez seja porque não nos vemos a algum tempo, retruquei...
E a moça sorriu ...e com a cabeça levemente de lado olhou novamente nos meus olhos....
Consegui olhá-la por mais tempo....reconhecia algo nela, mas não enxergava....
- aceita uma taça? Perguntei...
- vou pedir, disse a moça já com os braços estendidos chamando o garçom....
Para minha surpresa, aquela estranha estava muito confortável, conhecia as pessoas....será que é daqui que conheço ela? Vou perguntar...
- gostaria também de um copo de água e gelo, por favor – disse ela antes que eu lhe perguntasse algo.
Uma vez me disseram que colocar gelo no vinho não é de bom grado....mas a moça não se intimidou....e sorrindo para o garçom agradeceu ...
- então , como estão as coisas? Pergunta a moça projetando seu corpo para frente e movimentando a taça...
- estou bem, trabalhando bastante, as coisas de sempre – fui sucinta
Aos poucos a moça foi me contando sua história, seus sonhos, seus medos e suas lembranças.....e cada vez mais aquilo se aproximava de mim, do que eu era...
Mas a moça falava muito, gesticulava, sorria, explicava e se permitia...
- você se permite?
- permite o quê?
- sonhar, acreditar....
- não sei...sou meio cética,como você sabe..(ela sabe??)
- por isso acho que você está diferente...
- não entendi..me desculpe..
- entendeu sim só não percebeu...
- ah....só acho que essa história de sonhar demais, ser romântica demais, crer demais é estupidez – disse a ela, novamente com um certo incômodo...quem ela pensa que é para tentar me ler desta forma?
- você sabe quem eu sou....
(espera um pouco... eu não disse nada, porque ela respondeu?)
Coloquei um gelo em meu vinho... Brindamos...
- a nós – disse ela
- a nós? – perguntei...
- sim...ao nosso reencontro...
Parei por alguns instantes...foi então que sorri, com a cabeça levemente de lado, olhando para aquela moça, agora tão familiar e me reconheci, naqueles olhos com brilho e no sorriso da certeza...
Abri os olhos, tomei meu segundo gole e continuei sozinha, sorrindo, esperando o fim daquela tarde...

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